O município de Governador Celso Ramos, conhecido
historicamente por sua dependência da pesca artesanal, testemunha uma
transformação significativa: filhos de pescadores estão cada vez mais se
afastando do mar para seguir carreiras bem diferentes das de seus pais e avós.
A cidade, onde outrora mais de 80% da economia era sustentada pela pesca, hoje
vê seus descendentes abraçando outras profissões e alcançando níveis mais altos
de escolaridade.
Essa mudança começou a ser notada cerca de 30 anos
atrás, com a primeira geração de filhos de pescadores que decidiu trilhar
caminhos diferentes. Entre eles, está o pescador Zezinho, que compartilha as
dificuldades da vida no mar e como isso influenciou suas decisões para o futuro
de seus seis filhos. “Como é uma vida muita sofrida, nunca quis isso para meus
filhos”, conta Paulo, cujo esforço fez com que três de seus filhos se tornassem
policiais militares e os outros três seguissem carreiras fora da pesca.
Essa transição reflete a realidade da maioria dos
jovens descendentes de pescadores, que não só deixaram o setor, como também
buscaram qualificação acadêmica, algo antes incomum na cidade. Muitos
conquistaram diplomas universitários e agora atuam em áreas bem distintas,
embora a pedagogia tenha se destacado entre as mulheres, que optaram por
carreiras ligadas à educação nos últimos anos. Esse movimento cultural e
econômico marcou uma mudança histórica para a população nativa, ao romper com a
tradição pesqueira que sustentou a cidade por décadas.
Curiosamente, embora a pesca tenha sido substituída
como fonte de renda para essas famílias, o setor turístico também não atraiu
grande parte dessa nova geração. Diferente de muitas regiões litorâneas, onde o
turismo serve como alternativa econômica, os filhos de pescadores de Governador
Celso Ramos não assumiram papel de destaque nos comércios locais ou no turismo.
Inclusive, a maioria dos comércios próximos às praias pertence a empreendedores
de fora da cidade, e até mesmo os trabalhadores sazonais do setor não são, em
sua maioria, locais.
Por Alex Ocker
Historiador
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